Quando
foi anunciado em março de 2013 que Riccardo Tisci assinaria
figurinos da nova turnê de Rihanna, a reação
geral pode ter sido de surpresa, mas para quem acompanha de perto os
passos do diretor criativo da Givenchy, a colaboração
foi apenas natural; afinal, desde que ele se juntou à grife,
em 2005, o designer tem se estabelecido não apenas como nome
forte da alta-costura, como também da cultura pop e de tudo
que é novo, urbano, descolado. Alta-coolstura.
Fonte : FFW
O segredo do sucesso de Tisci se deve ao seu dom em misturar rua e conceito para um resultado não apenas coerente, mas altamente desejável. Como bem definiu a revista “Interview” lá em 2011, quando florescia a relação mais explícita do estilista com o universo hip-hop: “Ele se tornou em pouco tempo um maestro do choque e um vidente do chique, com um toque mágico capaz de misturar o amor rebelde pelo gótico e a profundidade urbana com um senso refinado de estilo e sexualidade”.
Isso
fica muito claro nos desfiles da Givenchy. Na coleçãofeminina Inverno 2013 apresentada em Paris em março deste ano, lá estão
os moletons estampados que viraram febre há algumas
temporadas, combinados a saias lápis, casacos de pele e
vestidos bordados repletos de transparências. As estampas
marcam presença também na coleção masculina,
criada com a alta-costura em mente, em materiais inesperados como
cashmere, veludo e couro. A beleza – e o tino comercial — está
nisso: como uma grife tão fortemente associada ao estilo
clássico de Audrey Hepburn consegue atrair uma clientela jovem
e moderna, sem deixar de lado seu público já fiel. A nova estética da Givenchy é reflexo da persona de Tisci, cujas “Audreys” vão de Mariacarla Boscono e Lea T a Marina Abramovic, Courtney Love e Antony Hegarty, líder da banda Antony and the Johnsons. Em um artigo da “Vogue” americana de março de 2012, que aborda justamente a relação de Tisci com a cultura pop, ele afirma, sem pudores: “Eu amo a arte e a música mais do que amo a moda”. Para a “Interview”, ele acrescenta: “Tenho gosto por tudo o que é americano, mas especialmente pela América do gueto. Amo o Bronx. Amo o hip-hop e o R&B”. E esse amor é recíproco.
Kanye
West e Jay-Z em 2011, durante a turnê do álbum “Watch
the Throne”, com peças criadas especialmente por Riccardo
Tisci — incluindo o famoso kilt usado por Kanye (estevídeo mostra
o rapper provando a peça e falando de sua “silhueta
moderna”, marca do trabalho de Tisci na linha masculina da Givenchy)
Kanye
West, Jay-Z e Rihanna são os principais artistas do hip-hop
que desenvolveram uma relação com Riccardo Tisci que
vai além do consumo, e inclui parcerias em projetos especiais:
West e Jay-Z conseguiram seus serviços como diretor de arte
para o álbum “Watch the Throne”após reunião
e jam
session em
que todos trocavam ideias “como uma família dando opiniões
uns para os outros, compartilhando – algo que está faltando
na moda”, Tisci afirmou à “Vogue”. A dupla teve ainda
looks criados para sua turnê, assim como Rihanna mais
recentemente. Com sua popularidade e influência (a Watch the
Throne Tour foi a 9ª turnê mais lucrativa de 2012, de
acordo com a Billboard), não é difícil entender
como eles ajudaram a introduzir o nome da Givenchy a um público
totalmente novo, transformando a marca na principal criadora de
desejo do hip-hop atual.2011
foi notavelmente o ano da virada para a Givenchy, mais
especificamente a partir do desfileInverno 2011 masculino,
quando foram apresentadas as camisetas e moletons com estampa de
rottweiler que viraram desejo depois que Kanye West e muitos, muitos
outros artistas começaram a exibi-la. Só para se ter
uma ideia da importância desse ano para a empresa, fizeram uma
pesquisa rápida no site
da revista “Complex”,
referência entre as publicações voltadas para o
estilo urbano: buscando pela tag “Givenchy”, aparecem apenas dois
artigos em todo o ano de 2009; um em 2010; e 25 em 2011. Em agosto de
2012, a revista já elegia a Givenchy como a número 1
das “Marcas de Moda Mais Importantes no Hip-Hip Atual”, em uma
lista que também incluía Maison Martin Margiela,
Balmain, Rick Owens e Louboutin, entre outras.
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A estampa de rottweiler em cinco momentos: usada pelo próprio Riccardo Tisci ao fim do desfile masculino Inverno 2011 da Givenchy; e em Kanye West, Rihanna, Swizz Beatz e Pusha T |
Na
multimarcas virtual SSense,
que trabalha com uma seleção das grifes mais
representativas do estilo urbano, a popularidade da tal camiseta foi
bastante óbvia. O site revelou que “a demanda foi tão
alta que a peça esgotou em apenas alguns dias. Fizemos novos
pedidos, e o item continuava esgotando instantaneamente. Depois de
analisar toda a nossa gama de produtos e nossas vendas, podemos dizer
que ela é um dos itens masculinos mais vendidos e a peça
que mais vendeu da coleção masculina Inverno 2011
da Givenchy”.
O modelo, que ganhou nova versão no Verão 2012,
seguindo a estética icônica que já se provou
sucesso garantido, “continuou sendo um dos itens mais vendidos na
temporada seguinte”. A SSense se diz “muito empolgada em receber
a nova coleção [com a estampa central sendo a de um
doberman, embora o rottweiler apareça nos acessórios
femininos], porque temos certeza que ela terá um grande
impacto”. A procura faz sentido: embora não seja barato, é
relativamente “possível” comprar uma camiseta-desejo de
US$ 265 ou um suéter de US$ 960.
E
se em lojas virtuais como a SSense, publicações como a
“Complex” ou blogs especializados em estilo como o UpscaleHype a
popularidade da grife já é notável, ela fica
ainda mais óbvia em ferramentas em que o próprio
usuário tem o poder de expressão. Hoje, no Instagram,
há mais de 262 mil imagens identificadas com a hashtag
#Givenchy. O peculiar nesse resultado, no entanto, é a forte
presença masculina; aqui, eles se fazem muito mais presentes
do que nas marcações envolvendo outras grifes de luxo.
O mosaico do início desta matéria foi feito com algumas
dessas fotos, e mostram a Givenchy como grife aspiracional e
desejável para os homens. “Não é que eu
tenha inventado a roda”, Tisci afirmou à “GQ” em
dezembro de 2012 sobre sua habilidade em transformar cultura pop
em couture e
vice-versa. “É só que eu sou muito honesto com o meu
estilo e com o que as pessoas querem nas ruas”. E embora seja
difícil mensurar exatamente como essa habilidade está
se transformando em lucro, é seguro dizer que, mal, ela com
certeza não está fazendo.Algumas fotos dos famosos com as peças de Ricardo Tosci :(gif)
Fonte : FFW
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